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Sílvio Barros provoca o exercício de imaginar o futuro para construí-lo

 

Planejar a cidade que queremos dentro de 20 anos é um exercício de imaginação. E instigar o público que assistiu à palestra de Silvio Barros, ontem, no Centro da Indústria, Comércio e Serviços (CIC-BG), foi a principal estratégia do ex-prefeito de Maringá para forçar a comunidade a se imaginar em 2038 desde já. “Estou aqui para provocar”, disse. O jantar palestra ocorreu na noite de 22 de novembro, na sede da entidade.

Barros testemunhou a rápida evolução de Bento Gonçalves para colocar em prática o plano O Futuro de Minha Cidade, da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC), apresentado em abril pela Ascon Vinhedos. A partir dessa inspiração, o município formatou e vem trabalhando no projeto ‘Bento + 20’, com foco no alinhamento de diretrizes de planejamento para as próximas duas décadas. Além de elogiar a sensibilização e engajamento de Bento Gonçalves diante desse desafio, ele fez um alerta sobre as intensas e velozes mudanças pelas quais o mundo passa. “Estamos considerando em nosso planejamento as megatendências globais que vão acontecer independentemente de nossa vontade? A velocidade com que as coisas vão acontecer, é algo que nós nunca presenciamos antes”, comentou o prefeito responsável por Maringá ser eleita uma das melhores cidades para se morar.

Neste cenário, planejar uma cidade desconsiderando assuntos como internet das coisas, big data, gestão de resíduos e indústria 4.0, seria temerário. Disse que a robótica deve eliminar, até 2030, 800 milhões de empregos no mundo. “Essas pessoas serão recolocadas no mercado de trabalho de que forma? É uma pergunta de reflexão para uma câmera temática de inovação”, sugeriu, citando as câmeras que serão criadas no Cedipro para discutirem assuntos específicos.

 

Nova forma de pensar

Mudanças de comportamento já em curso, como o compartilhamento de veículos, também foram citadas por Barros. Além de causar impacto na indústria automobilística, isso trará economia às cidades” Corremos o risco de ter uma câmera técnica de mobilidade urbana preocupada com o trânsito de Bento Gonçalves, entendendo que a curva de aumento de veículos deve crescer, e como as ruas não vão se alargar, será necessário construir infraestrutura urbana. Lamento dizer a vocês que esta seria uma solução totalmente equivocada, porque o compartilhamento de veículos vai diminuir o número de carros na rua”, avaliou.

Em São Paulo, uma pesquisa da Deloitte apontou que a necessidade de ter um veículo era questionada por 55% em 2016. Isso provocou, durante a revisão do plano diretor da capital paulista, a eliminação de vagas de estacionamento para todos os novos empreendimentos da cidade. A nova ótica teve um reflexo direto no custo dos imóveis - os prédios sem garagem já respondem por 25% dos lançamentos em São Paulo. Há até caso de imóveis em que tudo é compartilhado, até mesmo os 10 carros elétricos disponíveis. “O morador tem e não tem carro”, disse. Esses mesmos prédios também são menores, porque as pessoas já trabalham no espaço de coworking inicialmente projetado - indo ao encontro de um estudo que revela que, até 2020, 90% das corporações devem oferecer aos funcionários alguma modalidade de trabalho a distância. “O mobiliário para esses apartamentos será diferente, será multifunção. É um potencial grande. A indústria moveleira é importante para vocês, se começarmos a pensar nestas tendências, vocês podem sair na frente”, disse.

 

União de poderes

Para tudo isso, é importante que o poder público seja parceiro, revendo políticas e leis, e até exigindo que tendências sejam cumpridas - como o caso de prédios serem construídos prevendo tomada para o carregamento de carros elétricos. Segundo Barros, também devem ser considerados para o planejamento questões como desastres naturais e ataque cibernético, além do cumprimento dos objetivos de desenvolvimento (ODS) da ONU até 2030. "Precisamos pensar que o mundo não será, nos próximos 10 a 20 anos, aquele que nós vivemos hoje. Sa fizermos planejamento a longo prazo sem levar em consideração isso, estaremos cometendo um grave equívoco”, alertou.

Outra recomendação foi a de incluir jovens nesse exercício de imaginar e construir o futuro. “As pessoas que, hoje, estão na casa dos 20 anos, em duas décadas serão os líderes à frente de muitas das mudanças que estamos almejando. Para eles, esse raciocino de futuro é muito mais fácil, eles pensam e percebem a de outra forma do que muitos de nós”, disse.

 

Cedipro prestes a ser criado

A palestra de Sílvio Barros foi o pano de fundo para outro importante avanço em Bento Gonçalves. O prefeito Guilherme Pasin assinou um projeto de lei para criar o Conselho Municipal para Estudos, Diretrizes e Projetos (Cedipro Bento+20). Com isso, o documento será encaminhado para apreciação do Legislativo.

Entre várias atribuições, o Cedipro Bento+20 terá que estabelecer diretrizes visando geração de empregos, gerir um fundo para recursos e instituir câmeras técnicas. “São elas que terão a responsabilidade de pensar o futuro”, disse o engenheiro Milton Milan, coordenador de implantação do projeto O Futuro da Minha Cidade. Ao todo serão oito câmeras, cada uma formada por membros especialistas em suas áreas de atuação - Urbanização e Mobilidade Urbana, Tecnologia, Inovação e Atração de Investimentos, Saúde, Segurança, Educação, Turismo, Gastronomia e Hotelaria, Indústria, Comércio e Serviços e Agricultura, Agropecuária e Vitivinicultura.

O organograma do Cedipro prevê ainda um Plenário - espaço de decisão composto por membros de entidades e do poder público -, um Conselho Consultivo, um Conselho Fiscal e uma Diretoria Executiva. “Esse é um conselho que nasce para somar e dividir. Somar os nossos conhecimentos e as perspectivas de futuro e dividir com o poder público como fazer o futuro melhor para Bento”, disse Milan.

Para o prefeito de Bento, Guilherme Pasin, o momento simboliza a relação amistosa e profícua da administração com as entidades locais. “Nada mais justo do que a sociedade civil organizada se colocar ao lado do poder público municipal para fazer uma cidade melhor, definindo agendas mínimas e garantido continuidade, independentemente, da sequência ou não das gestões municipais”, comentou.

O presidente do CIC-BG, Elton Gialdi, disse que é preciso aproveitar o empreendedorismo de Bento para cuidar da cidade e, em parceria com o poder público, impulsionar o município para patamares ainda mais elevados. "Esse é um projeto que merece ser continuado e aperfeiçoado, constantemente, pois a cidade é um organismo vivo, em eterna mutação. Com o envolvimento da sociedade, através das entidades organizadas, e do poder público, temos condições de pensar, planejar e melhorar nossa cidade para os próximos 20 anos. Devemos, todos juntos, estar à frente desse compromisso”, disse.

 

Crédito das imagens: Exata Comunicação