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Professor da UCS aborda, em artigo, situação econômica do país

            O cenário econômico atual está sendo marcado pela crise política, que assola o governo federal e lança seus reflexos em todas as direções. Se por um lado o governo do presidente Michel Temer, após as denúncias feitas pelos empresários do grupo J&F, perdeu as condi- ções de governar, já que paira sob esse um voto de desconfiança, por outro lado os fundamentos da economia aparentemente ainda não demonstraram perturbações em suas rotas. A inflação de 4,08% segue sob controle dentro da meta e com viés de baixa. O risco Brasil se reduziu, espera-se uma redução na taxa de juros até o final do ano para 8,50%. O melhor resultado vem do IBC-Br, o índice que é calculado pelo Banco Central e serve como uma prévia do comportamento do PIB – esse fechou o primeiro trimestre com alta de 1,10%. Esses resultados apontavam para uma possível recupera- ção e com essa o final da fase recessiva. Mas essa recuperação agora fica condicionada à resolução do impasse político que está posto.

            Outra variável que ainda apresenta um resultado negativo é o desemprego, com mais de 14 milhões de trabalhadores sem atividade com carteira assinada. Embora macabro, o comportamento dessa variável está de acordo com o esperado, já que o emprego é uma das últimas variáveis a dar sinais positivos quando ocorre uma recuperação da economia. O comportamento da variável é, portanto, contracíclico, movimentando-se em direção oposta às demais. Assim quando a economia entra em fase de expansão o desemprego se retrai e o contrário é verdadeiro.

            Em abril de 2017, em nível nacional, segundo dados do Observatório do Trabalho da Universidade de Caxias do Sul, tivemos uma expansão da ordem de apenas 0,16%. O emprego no estado do Rio Grande do Sul sofreu um recuo de -0,12%. Já o município de Bento Gonçalves obteve uma expansão de 0,02%, ou seja, 7 vagas. O setor com maior saldo de contrações foi o de ensino, com 29 vagas. Já os maiores volumes se concentraram no comércio, com 211 vagas e saldo -1; na indústria moveleira, com 131 vagas e saldo de – 13; seguido dos setor de hotelaria, com 106 vagas e saldo de - 62 vagas. A dinâmica do emprego revela os setores chaves que atualmente vêm alavancando do crescimento do município. Cabe comentar que a matriz econômica apresenta uma interessante diversificação, o que é sem dúvida salutar – quando em momentos de crise, o município pode contar com a participação de diferentes setores e ainda assim sustentar seu crescimento. Todavia, a plena recuperação da economia brasileira ainda é uma imagem tênue no horizonte, por diversas razões. A primeira refere-se ao fator de credibilidade que um governo deve ter para liderar reformas tão profundas quanto as pretendidas nesse momento. As reformas são necessárias e por essa razão deveriam ser blindadas para que não sofressem interrupção na sua apreciação por parte do Legislativo, já que seus resultados impactam sobre o estrangulamento que o déficit do governo impõe ao crescimento de longo prazo. A segunda razão é que tanto a reforma trabalhista quanto a previdenciária tem seus desdobramentos sobre a estrutura produtiva, enquanto uma desonera em parte o ato de contratar, a outra cria um cenário de controle sobre o déficit do governo.

            Uma pesquisa do Instituto Datafolha revelou que mais de 70% dos brasileiros são contra as reformas. A verdade é que as pessoas desconhecem a importância das mesmas para o equilíbrio fiscal do governo e para os rumos da política econômica. Os ajustes propostos pelo governo são em tese legítimos, todavia, não se pode perder de vista alguns princípios que norteiam o processo.

            A atual reforma da previdência, segundo Latif (2017) comentou, é em primeiro lugar necessária para estabilizar o gasto da previdência como proporção do PIB que atualmente se encontra em 8% na esfera federal. Cabe lembrar que essa alíquota é comparável a países com população mais velha, sendo que a nossa população deverá dobrar em termos relativos nas próximas décadas. Em segundo lugar, precisamos eliminar as distorções distributivas que estão presentes no atual sistema. A previdência oferece tratamento especial a grupos que deveriam ter tratamento igual aos demais. Em terceiro lugar, a previdência deveria ser uma fonte de recursos duradoura o suficiente para acompanhar as mudanças no padrão de consumo da velhice.    

            A proposta de reforma da previdência é um fato na agenda econômica, existe ainda a reforma trabalhista e outros tantos pontos a serem propostos e discutidos com a sociedade. O que não pode acontecer é que o pais se deixe levar pelo imobilismo de um governo que perdeu as condições de governabilidade, sob pena das próximas gerações pagarem um alto custo em termos de crescimento e desenvolvimento. É, portanto, necessário que seja proposta e executada uma solução rápida para o conflito, para que assim todo esforço até agora empreendido não seja desperdiçado, possibilitando ao país a estabilidade institucional necessária ao seu crescimento.

 

Por Mosar Leandro Ness, professor de Economia da Universidade de Caxias do Sul (UCS)